O objetivo é avançar no conhecimento sobre o potencial do ecossistema na mitigação da mudança climática global

Conservar a maior faixa contínua de manguezais do planeta é estratégico à proteção da biodiversidade, dos modos de vida e das atividades que sustentam a economia local, como a pesca. Atualmente, pesquisadores trabalham em campo, na área de reservas extrativistas paraenses, para somar mais um importante papel a esse capital natural: o potencial na mitigação da mudança climática global, com a possibilidade de geração de renda e avanços na qualidade de vida por meio do mercado de carbono, na expectativa de maior valorização da floresta em pé.

No projeto Mangues da Amazônia, patrocinado pela Petrobras e realizado pelo Instituto Peabiru e Associação Sarambuí, os pesquisadores do laboratório iniciaram expedições nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Tracuateua (PA) com objetivo de dimensionar a estrutura das florestas de mangue e a biomassa nelas estocada. Além de delimitar parcelas e medir as árvores, o trabalho aplica equações alométricas já desenvolvidas localmente para extrapolar a quantidade de biomassa e carbono. “É um importante avanço, pois nos manguezais da região ainda há lacunas de conhecimento sobre as espécies e sua distribuição”, observa Paulo César Virgulino Júnior, doutorando em biologia ambiental (PPBA/IECOS/UIFPA), integrante da equipe.

Ao mesmo tempo, outra linha de pesquisa do LAMA mede as emissões de gases de efeito estufa dos manguezais. Sob influência dos sedimentos levados pelo rio Amazonas até a foz, no Oceano Atlântico, os manguezais da região acumulam grande quantidade de matéria orgânica abaixo e acima do solo, funcionando como uma “bomba de carbono”, de acordo com pesquisas científicas já realizadas.

Diante da urgência climática e dos indicativos da recente COP26, a conferência da ONU sobre mudança do clima, em Glasgow, é crescente a demanda por projetos de conservação e recuperação de florestas, incluído as de mangue, que na costa amazônica são mais extensas e exuberantes em comparação às demais regiões do país. “O desafio é estabelecer, com dados confiáveis, o quanto elas estocam e emitem de carbono por meio das árvores e do solo, considerando-se as características e a dinâmica local desse ecossistema na Amazônia”, ressalta Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Segundo os biólogos, os dados coletados sobre a estrutura e a contribuição da floresta para os estoques de carbono contribuirão para orientar não só as ações de reflorestamento das áreas degradadas, mas as estimativas de ganho e perda de biomassa/carbono de manguezais na Amazônia. A ideia é que a recuperação realizada pelo projeto represente com maior fidedignidade possível ao ambiente antes da degradação, o que também, no futuro, poderá resultar em créditos de carbono como receita para as populações locais.

Entre as atividades do projeto Mangues da Amazônia está a recuperação de 12 hectares em dois anos, distribuídos em áreas já impactadas em três reservas extrativistas dos municípios de Augusto Corrêa, Bragança e Tracuateua (PA), mobilizando direta e indiretamente cerca de 7,6 mil pessoas. Além de atividades socioambientais de educação, empoderamento social e organização comunitária, a iniciativa desenvolve estudos para suporte a práticas sustentáveis de manejo do caranguejo-uçá, madeira e outros recursos naturais que se somam ao valor dos manguezais amazônicos pelo serviço climático prestado ao planeta.

 

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