De acordo com pesquisa do ecólogo Danilo Neves, apoiada pelo Instituto Serrapilheira, plantas capazes de colonizar regiões com menos chuva e umidade são evolutivamente raras

Mais do que as variações de temperatura, a seca é responsável por criar assinaturas únicas de biodiversidade, um fato determinante para ampliar a importância da proteção de plantas que desenvolveram tolerância à estiagem. É o que mostra um novo artigo de autoria do ecólogo Danilo Neves, da UFMG, feito em parceria com a Universidade do Arizona (EUA), publicado pela PNAS, a segunda revista científica mais citada do mundo.

O estudo intitulado “O desafio adaptativo de condições extremas molda a diversidade evolutiva de comunidades de plantas em escalas continentais” faz parte de um projeto de pesquisa financiado pelo Instituto Serrapilheira, primeira instituição privada, sem fins lucrativos, de fomento à ciência no país. “No meio de toda a pesquisa, esse apoio foi fundamental para conseguirmos produzir um banco de dados único sobre a composição de espécies nos diversos ecossistemas terrestres das Américas. Como resultado, tivemos uma mudança de percepção sobre os impactos que a biodiversidade pode sofrer em cenários de mudanças climáticas globais”, explica Neves.

Com a projeção de aumento da seca em muitas regiões que hoje são úmidas, como a Amazônia, ele destaca a necessidade de proteger as linhagens de espécies adaptadas a falta de chuva e umidade.  “Essas plantas serão potencialmente capazes de colonizar regiões que se tornarem mais secas, contribuindo para o funcionamento desses novos ecossistemas”, informa.

Segundo o ecólogo, uma das principais novidades do trabalho publicado pela PNAS, está na reiteração de que a condição de seca, negligenciada em estudos anteriores, é um fator, no mínimo, tão importante quanto o frio extremo para a distribuição da biodiversidade de plantas no mundo.

“Considerando que as adaptações para tolerar condições de secas são evolutivamente raras, o impacto será imenso se ambientes úmidos se tornarem mais áridos com as mudanças climáticas globais. Possivelmente, famílias inteiras de plantas seriam extintas nesses ambientes, já que muitas delas são desprovidas de espécies com as adaptações necessárias para suportar longos períodos de estiagem”, alerta Neves.

Os novos resultados publicados no artigo fazem parte do projeto “Evolução de nicho em biomas tropicais e suas consequências”, que recebeu financiamento de R$ 100 mil da 3ª chamada pública do Instituto Serrapilheira. Nesse primeiro estágio, o projeto tinha o foco direcionado em gerar informações ecológicas para centenas de espécies de plantas que ocorrem no Brasil, e aperfeiçoar modelos estatísticos e teorias ecológicas sobre biodiversidade. Essas abordagens integrativas que o levaram a concluir sobre seca ser responsável pela pluralidade evolutiva nos ecossistemas terrestres do extremo norte do Canadá até a Patagônia.

De acordo com Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira, a organização aposta nesse tipo de transdisciplinaridade presente no estudo de Neves como forma de trazer uma compreensão mais profunda de sistemas biológicos complexos. “É um conhecimento que vai ajudar a enfrentar os desafios impostos pela crise climática, além de trazer luz a diversas formas de ajudar a frear essas mudanças”, lembra Aguilaniu.

 

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